La Mancha

Um dia disseram-me – que digo eu, já me disseram tantas vezes – que não devia dar tanta, ou nenhuma, importância ao que os outros possam pensar do que faço, digo ou sou. É uma regra simples que até um puto (outro puto qualquer) domina na perfeição. O que se esqueceram de me dizer é que também não devia dar importância ao que penso de mim próprio, nascente de todos os fogos-fátuos das ilusões do que os outros poderão pensar. Um outro dia disseram-me que teríamos um polícia dentro de cada um de nós se fosse para não podermos pensar à vontade, seja acerca dos outros ou do que possam pensar, seja acerca de nós próprios, ou das raivas que queremos falar. Pode adiar-se um crescimento uma vida inteira com medo de ter que ir a terreiro defender as nossas verdades. E isto foi outra coisa que um dia me disseram. Pode crescer-se por dentro de um adiamento do sentir, mas morre-se mais um bocadinho, cada vez mais devagar. Pode morrer-se sepultado em si mesmo enquanto se acendem pelejas contra moinhos de vento. Escreveram-me um dia, sem que fosse directamente, que há pessoas que têm medo ainda que nem elas saibam muito bem de quê. Creio que terão medo de que aconteça o que forçam: que os apaguem; como tal, apagam-se. Fuga em frente dos passos atrás que nos cravam ao mesmo sítio sem volta no pensar. Disseram-me um dia que eu escrevia melhor quando não escrevia para os outros, mas não sei, nunca soube, para quem escrevo quando acho que estou a escrever.

1 comentário:

  1. Digo-te eu. Directamente.
    Escreves bem e fazes pensar. Escreves bem e fazes sentir.

    Obrigado!

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